sábado, 30 de março de 2013

Trens privatizados oferecem serviço ruim aos carioca

19/03/2013 - O Globo

"Patrão, o trem atrasou / Por isso estou chegando agora / Trago aqui o memorando da Central / O trem atrasou meia hora / O senhor não tem razão para me mandar embora". O sambinha cantado por Roberto Paiva agitou o carnaval carioca há 72 anos. Mas ainda é a cantilena do funcionário público João Batista, usuário do ramal de Japeri. Cai também como uma luva para a empregada doméstica Ramilda Pereira, de Saracuruna: dia sim, dia também, ela chega atrasada ao serviço, no Jardim Botânico. Quase 15 anos após a concessão do sistema ferroviário metropolitano à iniciativa privada, as 540 mil pessoas que usam os trens diariamente estão longe de desfrutar um transporte de primeira linha, como mostra a terceira reportagem da série "Imobilidade urbana".

O GLOBO fez viagens de ponta a ponta nos ramais de Saracuruna e Japeri, na última semana. Em ambos os percursos, os repórteres cumpriram o trajeto num tempo superior ao previsto no site da concessionária SuperVia. De Saracuruna à Central, a viagem durou 1h21m (em vez de 1h02m). Já da Central a Japeri, gastou-se 1h46m no horário de rush, 22 minutos a mais do que o informado. Somente no ramal de Santa Cruz, na quarta-feira, entre 17h30m e 19h, o intervalo de partida dos trens variou de dez a 27 minutos. Plataformas abarrotadas de gente, composições com avarias nas portas, policiais tentando apartar brigas: foi extensa a lista de problemas. Nada que surpreenda a vendedora Eloá Barcelos, de 25 anos, que mora em Bangu:

— Toda semana é isso. Já perdi até sapato no trem. Para melhorar, basta reduzir os intervalos — afirmou a jovem na última quarta-feira, enquanto aguardava um trem "menos cheio". — Frequentemente ouvimos casos de tarados no trem. Há desrespeito ao vagão feminino.

Ontem de manhã, um trem que seguia de Belford Roxo para a Central do Brasil sofreu um descarrilamento próximo a São Cristóvão. Mais uma vez, passageiros tiveram de caminhar nos trilhos até a próxima estação.

Em 1998, quando o sistema de trens foi concedido à iniciativa privada, o consórcio vencedor prometeu equipar todas as composições com ar-condicionado até o ano 2000. Treze anos depois, 81 trens (ou 43,7% da frota de 185) têm o equipamento. E 49 composições que ainda cortam os subúrbios são "senhoras" de 59 anos. Na avaliação do presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Sérgio Magalhães, os tímidos avanços nos últimos anos podem ser explicados pela falta de investimentos:

— Em 1975, no governo Geisel, os trens transportavam 1,5 milhão de pessoas por dia. Isso quando a cidade tinha a metade da população, e o povo era mais pobre. Aqui, investe-se quatro vezes menos do que em São Paulo. Há mais de dez anos está na mesa da concessionária uma proposta de transformar em metrô o trecho Central-Deodoro, com intervalos de quatro minutos.

Só 10% das estações têm banheiro

Se o sistema de trens do Rio tem alguns números superlativos — são cem estações em cinco ramais que totalizam 186 quilômetros de trilhos —, em conforto e qualidade a matemática joga contra. Apenas dez estações são dotadas de banheiros. Cobertura, escadas rolantes e bancos são artigos de luxo. Correm atualmente no Ministério Público 11 inquéritos que apuram irregularidades no serviço da SuperVia, como falta de agentes nas estações ferroviárias e erros na cobrança de bilhetes. Há um caso que ilustra o desperdício: inaugurada em 2000, a estação Walmart, em Pilares, nunca funcionou e já está em petição de miséria.

Passageiro dos trens desde a infância, o servidor público João Batista, de 59 anos, morador de Japeri, conta que já precisou dormir diversas vezes nos desconfortáveis assentos das estações:

— Falta tudo, principalmente informação. Não dá para entender o que se fala no alto-falante. Quando preciso ir de Japeri a Paracambi, uso o ônibus, que é mais barato e mais rápido.

Incidentes nos trilhos são comuns. Durante a viagem da Central a Japeri, na quarta-feira, passageiros levaram um susto na Rua Vinte e Quatro de Maio, quando um estouro foi ouvido na linha férrea. Imediatamente, as luzes do vagão se apagaram. Assim permaneceram por três minutos. Um cheiro de borracha queimada tomou o vagão. Até a chegada a Japeri, a SuperVia não explicou o que ocasionou a pane.
— O pneu furou! — gritou alguém.
No ramal de Saracuruna, estações chamam a atenção pelo enorme vão entre as plataformas e as composições, o que é cruel para idosos e cadeirantes. O urbanista Marat Troina, especialista em mobilidade urbana, aponta três gargalos do sistema: as dificuldades de acesso às estações, a irregularidade nos intervalos e a falta de conforto mínimo das composições.

— Em Bonsucesso, há escada rolante da plataforma à bilheteria. Mas o acesso da rua ao terminal deve ser feito por escadas comuns — afirma.

Apesar dos problemas, o diretor de operações da SuperVia, João Gouveia, dá nota 9 ao sistema. Ele diz que está em curso a troca da sinalização, bastante obsoleta. A nova tecnologia deve ser inaugurada primeiro no trecho Central-Deodoro até o fim deste mês.

— Até 2016, teremos todos os trens com ar-condicionado. Devemos aposentar os 49 trens antigos. Hoje o ramal mais carregado é o de Japeri. Com a nova sinalização, vamos conseguir reduzir os intervalos de 12 para 6 minutos.

Cronologia

Chibatadas: Em abril de 2009, seguranças da SuperVia foram flagrados improvisando chicotes com o cordão de seus apitos para agredir passageiros na estação de Madureira. Os usuários também foram atacados com chutes e socos. O tumulto começou quando algumas pessoas tentaram impedir o fechamento das portas das composições. O caso ganhou repercussão nacional. A SuperVia garante que hoje seria impossível ocorrer episódios como esse.

Revolta: Em outubro de 2009, indignados com a pane num trem do ramal Japeri, passageiros depredaram estações e composições. Um cofre chegou a ser arrombado e atirado nos trilhos. O tumulto deixou 16 pessoas feridas em Nilópolis e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O Batalhão de Choque da PM foi chamado.

Trem fantasma: Em janeiro de 2010, um trem parou em Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte, em consequência de uma pane. O maquinista deixou a cabine na tentativa de resolver o problema técnico. Enquanto isso, alguém teria entrado no trem e acionado a partida. Sem maquinista, a composição trafegou seis quilômetros em alta velocidade, passando por várias estações. Parou somente entre Oswaldo Cruz e Madureira. O episódio ganhou respercussão e ficou conhecido como "trem fantasma".

sexta-feira, 29 de março de 2013

SuperVia: Até 2016 toda a frota estará com ar condicionado

SRZD - 29/03/2013

João Gouveia fala, sobre a revitalização dos trens antigos: Os trens de aço-carbono, os verdes, serão aposentados.

Por Ana Luiza Albuquerque

Em 2012, os passageiros dos trens da SuperVia puderam notar que algumas embarcações estavam mais modernas e já contavam com ar condicionado. A novidade faz parte da renovação da frota da empresa, e nós, do SRZD, entrevistamos João Gouveia Ferrão Neto, Diretor de Operações da SuperVia, para entender melhor como acontecerão as mudanças.

"O processo teve início em 2012, quando recebemos 30 trens chineses do governo. Mais 60 trens já foram assinados também pelo governo, e devem começar a chegar no final de 2014. Os 90 trens, juntos, representam um investimento de R$ 1,2 bilhão. Além disso, a SuperVia comprou, por R$ 300 milhões, mais 20 trens franceses, que serão montados em uma fábrica que está sendo construída em Deodoro", afirma João. "A SuperVia também investiu R$ 1,2 bilhão, somando a compra dos 20 trens, a revitalização de uma parte dos antigos, melhoria de infra-estrutura, reforma de estações e duplicação do trecho Gramacho-Saracuruna", ele acrescenta.

João Gouveia falou, ainda, sobre a revitalização dos trens antigos: "Os trens de aço-carbono, os verdes, serão aposentados. Já os de aço inox sofrerão uma forte revitalização e ganharão ar condicionado, ficando praticamente novos. Essa revitalização custará R$ 190 milhões". "Até 2016 toda a frota, que contará com 231 trens, estará com ar condicionado e revitalizada. Uma viagem em um trem com ar condicionado é mais silenciosa, tranquila, e assim é proporcionado um serviço melhor, atendendo a expectativa do cliente. Hoje, 83 dos 185 trens já possuem o aparelho. Além disso, com a chegada dos 30 trens chineses, estamos ofertando mais lugares ao passageiros, 290 mil por dia", ele comenta sobre os benefícios das mudanças.

"Avalio que o serviço está em pleno processo de transformação e que o objetivo é transformar o mais rápido possível. Ainda existe muito trabalho pela frente, e estamos empenhados nisso", conclui o Diretor de Operações da SuperVia.

sábado, 23 de março de 2013

Ramal de trens de Santa Cruz pode voltar a Itaguaí

22/03/2013 - O Dia

Plano foi anunciado em seminário sobre crescimento da Baixada. Supervia alega obstáculo
POR ANGÉLICA FERNANDES

Rio - De olho no crescimento da Baixada Fluminense nos próximos 15 anos, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, anunciou nesta quinta-feira, durante seminário promovido pela Firjan sobre o futuro da região, a extensão do ramal ferroviário de Santa Cruz até Itaguaí.

Outros investimentos de melhoria na mobilidade urbana, como a ampliação da Via Light até Madureira, com licitação marcada para o mês que vem, devem sair do papel ainda este ano.

O projeto de reativação da linha férrea do ramal Itaguaí, desativada desde a década de 1980, tem prazo até 2015 para ser concluído pela SuperVia. No entanto, a concessionária aguarda a atuação do Estado, para desapropriar centenas de imóveis que tomam a via férrea irregularmente. A partir de 2016, Itaguaí deve abrigar uma enorme base offshore da Petrobras.


Nelson Bornier, prefeito de Nova Iguaçu, Carlos Erane, da Firjan Baixada I, e Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente do Sistema Firjan, no debate | Foto: Fabiano Veneza / Firjan

No relatório de nove páginas, mais de mil profissionais ligados à Firjan, criaram dezenas de ações para preparar a Baixada nos próximos anos. As sugestões foram desde a melhoria no abastecimento de água e gás natural até a construção de uma nova rodovia ligando a Baixada até a capital, na tentativa de desafogar a Rodovia Presidente Dutra.

Os 70 quilômetros do Arco Metropolitano, que ligará o Porto de Itaguaí ao Complexo Petroquímico em Itaboraí foi o investimento apontado como "essencial" no seminário. As obras, que começaram com dois anos de atraso, serão concluídas até dezembro.
Participaram os prefeitos de Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Queimados, Japeri, Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis e Paracambi.

Pedido de UPP na região

De todos os desafios apontados no relatório da Firjan, a segurança foi um dos temas mais preocupantes. Antes de iniciar o seminário, o presidente regional da Baixada da Fundação, Carlos Erane de Aguiar, pediu ao vice-governador, a chegada da UPP na Baixada.

"A insegurança afasta investidores e rebaixa a atratividade de capital para região", explicou. Na defensiva, Pezão ressaltou que vai abrir concurso para seis mil policiais neste ano, mas não revelou quando a Baixada receberá uma UPP.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Rio inaugura nova estação de trem em Duque de Caxias

11/03/2013 - Governo do Rio de Janeiro

Cerca de 30 mil moradores do bairro Corte 8, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ganharam uma estação ferroviária perto de casa. O novo terminal, que fica entre as estações do centro da cidade e de Gramacho, a uma distância de dois quilômetros de cada uma, foi inaugurado nesta segunda-feira (11/3) pelo vice-governador e coordenador de Infraestrutura do Estado, Luiz Fernando Pezão. A estação do Corte 8 é a 100ª do sistema ferroviário e a sexta em Duque de Caxias.

Contando com inovações, como piso tátil, rampas de acesso e um novo modelo de cobertura capaz de reduzir a sensação térmica, o terminal ainda representa para o morador do Corte 8 economia de tempo e de custo nos seus deslocamentos de trem, ao encurtar a distância até as residências. A nova estação deverá incorporar mais dois mil passageiros/dia ao ramal que transporta diariamente mais de 35 mil pessoas do município.

Pezão disse que a obra é mais uma ação do programa de modernização da rede estadual de trens, através do qual o governo do estado, em parceria com a concessionária, está investindo R$ 2,4 bilhões para mudar até 2016 o paradigma da prestação desse serviço público à população.

- A compra de novos trens, a segregação das linhas e os investimentos nas estações e no sistema de sinalização nos dão a garantia de que até 2016 vamos deixar como legado para a população um transporte ferroviário de qualidade - aposta o vice-governador.

Pezão afirmou que as ações do governo do estado no setor não serão interrompidos, porque acredita numa reversão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão do Congresso Nacional de mudar as regras de distribuição dos royalties do petróleo, envolvendo inclusive contratos em vigor, cuja aplicação se tornou uma séria ameaça à capacidade de investimento do Estado. O vice-governador reafirmou que os estados produtores mais prejudicados, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, vão entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) junto ao STF tão logo a nova lei seja promulgada.

- E vamos ganhar esta ação. Não acredito que o Supremo vá compactuar com o que o Congresso fez. Nosso direito é muito forte. A nova lei quebra o Estado do Rio, que usa 95% dos royalties para pagar pensionistas e aposentados, e quebra municípios, porque dos 87 que recebem royalties mais de 60 ficarão fora dos limites prudenciais da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pelo menos 20 municípios irão à insolvência, pois vivem com até 70% desses repasses. Então, a nova lei vai quebrar dois estados e a maioria de seus municípios e não vai resolver o problema dos outros 25 estados e dos outros 5,5 mil municípios - argumentou Pezão.

Além de investir R$ 10 milhões na construção da nova estação, a SuperVia implanta outras benfeitorias no ramal de Saracuruna. No último dia 23, inaugurou um bicicletário gratuito na estação de Saracuruna, o sétimo da empresa dentro do sistema. Com vagas para 700 bicicletas, os passageiros ciclistas contarão ainda com oficina para pequenos reparos, bomba de ar para calibragem de pneus e bebedouros. A empresa ainda incluiu, em dezembro passado, uma viagem do trem expresso Gramacho via Caxias às 18h25m, horário de pico, que realiza paradas em apenas quatro estações.

- Outra melhoria no ramal será a duplicação do trecho entre Gramacho e Saracuruna. Vamos investir R$ 50 milhões nesta obra que prevê a construção de mais onze quilômetros de via férrea e de dois pátios de manobra, além de modificações na rede aérea e na sinalização, o que vai diminuir pela metade o tempo de viagem entre as estações. Esperamos concluir a primeira fase das obras em junho deste ano - sinalizou o presidente da SuperVia, Carlos José Cunha.

Também estiveram presentes à inauguração da estação Corte 8 o prefeito Alexandre Cardoso e o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, entre outros convidados.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Vice-Governador participa da inauguração 100ª estação da Supervia

11/03/2013 - Folha Vale do Café

Aproximadamente 30 mil pessoas serão beneficiadas em Duque de Caxias

Duque de Caxias - O vice-governador e coordenador de Infraestrutura do Estado, Luiz Fernando Pezão, participou, na manhã desta segunda-feira (11/03), da inauguração da 100ª estação da SuperVia, em Duque de Caxias. Com investimento de R$ 10 milhões, a mais nova estação, que vai atender cerca de 30 mil moradores do bairro Corte 8, conta com piso tátil, rampas de acesso e novo modelo de cobertura para diminuir a sensação térmica, absorvendo o calor.

Durante a cerimônia, que também contou com a participação do secretário de Transportes, Julio Lopes, do presidente da SuperVia, Carlos José Cunha, e do prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso, Pezão apontou os avanços do setor no estado.

"É um momento de muitas alegrias. A SuperVia tem avançado e sabemos que tem muito chão pra caminhar. Com a compra dos 60 novos trens, que já vêm no primeiro semestre de 2014, e os investimentos que vêm sendo feitos na sinalização, vamos deixar um legado para a população de todo o Estado do Rio. Para 2016, nosso grande compromisso é oferecer ar-condicionado em todos os trens e estações modernizadas, dando mais dignidade ao transporte público, o que é o mais importante" disse o vice-governador.

Fonte: Jornal Folha Vale do Café/Com informações do Governo do Estado

sábado, 9 de março de 2013

Um trem chamado Brasil

18/02/2013 - Exame

Em janeiro de 2011, o executivo carioca Carlos José Cunha viveu a situação mais dramática de sua carreira. Em seu primeiro dia de trabalho na presidência da SuperVia, concessionária de trens metropolitanos do Rio de Janeiro, um menino de 10 anos foi atropelado por uma composição da empresa e morreu. O garoto soltava pipa nos trilhos, perto da favela do Jacaré, na zona norte da capital fluminense. Cunha logo perceberia que episódios estressantes — e até trágicos — não eram exatamente exceção no cotidiano da SuperVia. O braço de transportes do conglomerado Odebrecht comprou, em 2010, 60% da concessionária. No início, parecia simples melhorar o serviço dos trens suburbanos do Rio — pior do que estava, afinal, não ficaria. Melhorando o serviço, aumentaria o fluxo de passageiros, as receitas disparariam e por aí em diante. Mas, logo no primeiro dia à frente da concessionária, Cunha foi forçado a concluir: tinha à sua frente um desafio muito maior do que o esperado. "Cheguei achando que seria moleza transformar o serviço. Bastaria começar a investir", afirma Cunha. A história dos últimos dois anos, na verdade, não poderia ser mais complexa.

Problemas de solução difícil, e que não dependem somente da empresa, vêm atrapalhando os planos da concessionária. Alguns deles beiram o surreal, como a existência de um banheiro na Central do Brasil que também serve de ponto de encontros sexuais. Na gestão anterior, a SuperVia repassou a operação dos banheiros da estação a uma empresa que cobra uma tarifa pelo uso dos sanitários. Logo se descobriu que os banheiros estavam sendo usados de forma pouco ortodoxa. Há um ano e meio, a SuperVia tenta romper o contrato para dar acesso gratuito aos passageiros, mas a operadora resiste. O imbróglio foi parar na Justiça.

Absurdos à parte, o fato é que a Odebrecht menosprezou as dificuldades da operação de uma ferrovia que corta áreas pobres e violentas do estado e que foi sucateada por anos de baixo investimento. Uma das principais fontes de dor de cabeça é a falta de isolamento dos 270 quilômetros da via férrea que cortam a capital e outros 11 municípios. Os muros construídos para isolar trechos da ferrovia são repletos de buracos, abertos para a passagem de pedestres e veículos. Esses buracos também servem de refugio a usuários de drogas e vândalos. A invasão dos trilhos por pessoas, carros e animais provoca paralisações, atrasos e o mais grave: acidentes. A segurança de estações próximas a favelas é outro problema grave. Muitas delas eram usadas como ponto de venda para traficantes e cambistas. Ainda hoje, os vigilantes das estações têm de chamar a polícia, o que provoca retaliações. Técnicos da SuperVia já encontraram evidências de sabotagem em locomotivas, além de pedaços de lona em cabos elétricos, o que provoca a paralisação dos trens. Se a parada durar muitos minutos num dia de calor (atualmente, metade dos trens não tem refrigeração), os passageiros abandonam os vagões e, aí, o estrago está feito — quando há pessoas nos trilhos, a linha tem de ser paralisada por questões de segurança. Não é raro que atrasos generalizados se transformem em quebra-quebra.

Privatizada em 1998, a SuperVia foi arrematada por quatro fundos de investimento estrangeiros. Na época, o governo estadual ficou incumbido de comprar novos trens, mas não cumpriu sua parte. Em 2010, quando a Odebrecht Transport assumiu a operação (num contrato que vai até 2048), o governo se comprometeu a investir 1,2 bilhão de reais para renovar a frota.
Dessa vez, os investimentos começaram a se materializar. Dos 110 trens encomendados pelo governo, 30 chegaram no ano passado e os demais, já encomendados, entrarão em operação até 2014. A SuperVia, de seu lado, investirá outro 1,2 bilhão de reais — até agora, foram 400 milhões na reforma de 73 trens e de parte das estações. Também inaugurou um centro de operações e trocou 180 quilômetros de trilhos e dormentes, além de 200 quilômetros de cabos da rede elétrica.

Falta muito

Nada disso, no entanto, foi suficiente para mudar a imagem dos trens do Rio, que continua péssima. Hoje, a maior parte dos 190 trens ainda tem paredes encardidas e janelas estreitas. As mudanças feitas pela companhia até agora reduziram o número de falhas pela metade, mas a quantidade de incidentes ainda incomoda. "As pessoas têm vergonha de dizer que andam de trem no Rio, e mudar esse estigma leva tempo", diz Marcelo Boschi, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing. E isso que a Odebrecht precisa mudar. Caso contrário, não aumentará o número de passageiros e não chegará ao lucro. A meta inicial era superar 1 milhão de bilhetes vendidos por dia até 2016. Para cumprir o plano, deveria estar transportando atualmente 650 000 pessoas por dia, mas transporta apenas 540 000. Executivos da companhia já admitem que a meta inicial pode ser alcançada apenas em 2020. A operação faturou 400 milhões de reais e lucrou 60 milhões de reais em 2012. Para a Odebrecht, ainda é pouco.

Na tentativa de acelerar o passo, a empresa antecipou a compra de 20 trens, que entrarão em funcionamento já em 2014, e não mais entre 2016 e 2020, como manda o contrato. Esses trens serão montados no Brasil. Enquanto eles não chegam, a SuperVia vai se virar com o que tem. Contratou mais 22 seguranças para as estações e vai ajudar o governo estadual a aplicar 220 milhões de reais no reforço de muros e grades para isolar de fato os trilhos e diminuir o risco de acidentes. E um começo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Reforço antecipado nos trilhos e na baía no Rio de Janeiro

10/12/2012 - O Dia Online

Fabricação nacional de trens começará já no ano que vem. Rio recebe nesta terça-feira 2 barcas

Rio - Alívio à vista para usuários de transporte público no Rio. Dois catamarãs vão atracar nesta terça-feira, no Porto do Rio, com a promessa de reforçar as barcas em 1.600 lugares por hora nos horários de pico.

O serviço da SuperVia promete também entrar nos trilhos antes do esperado: até fevereiro de 2014, 20 novos trens montados em Deodoro, na Zona Oeste, devem entrar em operação com capacidade para mais 20 mil passageiros. A data prevista antes era 2016.

A nova fábrica de montagem é fruto da parceria com a empresa francesa Alstom e ficará pronta até junho. O contrato foi firmado na manhã desta segunda, com presença do governador Sérgio Cabral.

Composições das linhas 3 e 4 do metrô e os VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) poderão ser produzidos lá. "Vamos avaliar a locação do espaço para atender novos projetos", adiantou o presidente da Alstom Brasil, Marcos Costa.

As composições para a SuperVia serão parecidas com as da frota chinesa, com passagem interna entre vagões, TVs e painéis de LED. A capacidade para passageiros, no entanto, será 20% menor nos trens nacionais.

O mapa de linhas digital é a grande novidade nos carros: nos vagões, mostrará em que ponto do trajeto o trem está. "A ideia inicial seria fabricar os trens na França, mas decidimos trazer todo o trabalho para a nossa casa.

A grande vantagem é que vamos acompanhar todo o processo de fabricação e ainda gerar empregos na cidade", explica o presidente da SuperVia, Carlos José da Cunha, que garantiu 270 vagas diretas e indiretas. A implantação da fábrica e construção dos trens representam investimento de R$ 2,4 bilhões da concessionária em parceria com o estado.

Catamarãs ainda sem data

Os novos catamarãs alugados de Hong Kong atravessaram o oceano a bordo de um cargueiro e só vão entrar em operação após série de testes no mar, ainda sem data para começar.

A CCR Barcas também não divulgou oficialmente o itinerário das embarcações mas adiantou que o novo investimento será para desafogar os horário de pico na linha Praça 15-Praça Arariboia, a mais movimentada. De acordo com a Secretaria Estadual de Transportes, a concessionária assumiu o compromisso de oferecer 1.600 lugares por hora nos horários de pico.

Por Angélica Fernandes