terça-feira, 7 de novembro de 2017

Levantamento mostra que um terço dos trens da SuperVia tem mais de 30 anos

04/11/2017 - EXTRA

Os mais de 600 mil passageiros que utilizam diariamente os trens urbanos no Rio encontram parte da frota obsoleta, cansada e, em boa parte dos casos, sem climatização. Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que, das 201 composições que circulam atualmente no Rio e em 11 municípios da Baixada Fluminense, 61 — o equivalente a 30,3% — têm mais de 30 anos de idade. Do total de trens fabricados no século passado e que ainda são mantidos em plena atividade pela SuperVia, 12 são conhecidos pelos passageiros pelo apelido de “quentões”, pois não têm ar-condicionado.

E o passageiro que tem a sorte de escapar da frota antiga e quente pode topar ainda com trens que, apesar de novos, não carregam o sistema automático de proteção (ATP). Responsável por aumentar o nível de segurança no tráfego ferroviário, o ATP detecta automaticamente um obstáculo à frente e aciona o freio.

O sistema começou a ser instalado nas composições em 2000, a partir de uma exigência da Agetransp, agência que regula transportes ferroviários, aquaviários e metroviários. A solicitação foi feita após a ocorrência de um acidente que resultou na morte de uma criança, na Zona Oeste do Rio. Atualmente, porém, 70 composições em circulação não têm o ATP.

— Em alguns setores da malha ferroviária, como em trechos do ramal de Belford Roxo, o ATP não funciona — diz Valmir Lemos, o Índio, presidente do Sindicato dos Ferroviários.

Eva Vider, engenheira de Transportes e professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio, defende a existência de uma renovação de frota programada:

— A idade média da frota deve ficar, no máximo, entre oito e 12 anos.

Ultrapassadas e quentes, as composições mais velhas são evitadas por quem pode esperar um pouco mais nas estas estações. É o caso por exemplo do cozinheiro Jonas Ferraz, de 18 anos. Morador da Zona Oeste, ele diz que evita os trens mais velhos porque se sente menos seguro numa composição antiga.

— Dá uma sensação de insegurança. Quando vem um trem velho, eu deixo passar e pego outro mais novo. No trem velho, as portas não fecham direito e o ar-condicionado, quando tem, não funciona bem — disse o cozinheiro, que costuma utilizar as composições do ramal de Santa Cruz para ir à escola e ao trabalho.

A dona de casa Eliane Vieira Onorato, de 43 anos, é outra que tenta escapar sempre que pode dos trens antigos.

— Peguei um desses no mês passado. Tinha ar, mas funcionava muito mal, e ficou quente a viagem toda. Viajar num trem assim é muito ruim — disse Eliane, usuária do ramal de Gramacho.

A SuperVia alegou que, apesar existência de trens com mas de 30 anos de idade, a idade média atual da frota é de 17 anos. Sobre os "quentões", a concessionária informou que os 12 trens antigos serão aposentados até 2020.

A concessionária diz ainda que, nos finais de semana e feriados, todas as viagens são feitas em trens com ar-condicionado. E que nos dias úteis, essa média é de 99%.

Sobre o ATP, a empresa diz que os cinco principais ramais ( Japeri, Santa Cruz, Deodoro, Saracuruna/Gramacho, Belford Roxo contam com o sistema instalado na malha ferroviária. E que também instalou o sistema de bordo em 131 composições. No entanto, outros 70 trens chineses, comprados pelo governo estadual para os Jogos Olímpicos vieram sem o ATP de bordo e rodam nesses ramais.

Neste caso específico, de nada adianta a instalação da malha, já que o funcionamento de um mecanismo depende do outo ainda não instalado. A instalação do ATP nos 70 trens, segundo a concessionária, seria uma atribuição do Estado, por força de contrato.

Sobre o ramal de Belford Roxo, a SuperVia informou que o funcionamento do ATP é prejudicado no trecho por casos de furtos de cabos. Só no primeiro semestre do ano, foram registradas 239 ocorrências deste crime.

A empresa alegou ainda que entende que o ATP é uma tecnologia que agrega, mas que , a ausência da proteção não afeta a segurança do serviço ferroviário de transporte de passageiros. Ainda de acordo com a Supervia, o ATP significa um reforço na segurança e não sua única ferramenta.

Já a Secretaria estadual de Transportes (Setrans)alegou que, atualmente, cerca de 70% da frota da SuperVia conta com o ATP. E que está ajustando junto à concessionária o cronograma de instalação do equipamento nas demais composições, visto que o serviço depende da paralisação gradativa dos trens. A nota diz ainda ainda, que há procedimentos operacionais que garantem o mesmo nível de segurança na circulação dos trens que ainda não contam com o equipamento.

Ainda segundo a Setrans, para dar continuidade ao processo de renovação da frota, o governo