quarta-feira, 9 de junho de 2010

Corrida de obstáculos nas estações de trem


‘O DIA’ testou sete paradas e flagrou escadas rolantes paradas, falta de rampas e de segurança

POR THIAGO FERES - O Dia - 09/06/2010 
Rio - Problemas enfrentados pelos usuários dos trens da SuperVia às vezes começam antes mesmo do embarque nas composições. O DIA testou a infra-estrutura de sete estações no Rio e na Baixada e em todas ouviu reclamações de usuários. Ausência de sanitários, segurança insatisfatória, iluminação precária e falta de acessibilidade para portadores de deficiência foram as principais queixas.
Fotos: Eduardo Naddar / Agência O Dia

É no Méier que os passageiros mais sofrem. Apesar de ser um dos principais acessos ao Hospital Salgado Filho, todas as quatro escadas rolantes que ligam as ruas Arquias Cordeiro e Vinte e Quatro de Maio à bilheteria estão inoperantes: três estão trancadas e a única liberada não funciona. Longas filas se formam mesmo fora da hora do rush: só um guichê costuma ficar aberto. A de Saracuruna, em Caxias, foi a menos pior, ganhou pontos por ser a única das visitadas a ter rampa para deficientes alcançarem a plataforma. As demais testadas foram Jardim Primavera, em Caxias, Comendador Soares e Presidente Juscelino, em Nova Iguaçu, São Cristóvão e no bairro de Madureira.

“Ninguém leva isso mais a sério, meu filho. As escadas já estão paradas há uns dois anos”, contou a moradora Janeth Cunha, na fila da estação do Méier, antes das 17h de ontem. Logo após a chegada da equipe de reportagem, outro guichê foi aberto. Em Madureira, o problema se repete: ontem, no acesso pela Rua João Vicente, uma gestante descia uma escada rolante parada.

Na estação Presidente Juscelino, no ramal de Paracambi, faltam lâmpadas nas luminárias, há bancos depredados nas plataformas, e ferros que sustentam a cobertura estão corroídos. O abandono apavora os passageiros: “Caminhar por aqui de noite é se aventurar. Não existe policiamento e a escuridão chega a ser assustadora. Fico indignado de esperar um trem sentado num ferro onde deveria ter um banco”, esbraveja o despachante Sinval Mangueira, 39 anos.

Deparar com uma rampa entre a bilheteria e a plataforma em Saracuruna foi um alívio para Sônia Maria de Assis, 57 anos, que levava a neta Geovana, de 2 anos, num carrinho de bebê: “Em outras estações passo dificuldades quando estou com minha neta”. Essa parada foi onde a equipe encontrou mais agentes de segurança e mais limpeza. Mas nem tudo é perfeito: na passarela, usuários dividiam espaço com um motoqueiro.

Em Comendador Soares, ambulantes usam o corrimão da passarela como vitrine para produtos. “A parte estrutural é tão ruim quanto o serviço. Não vejo coleta de lixo nem policial militar. Os seguranças só servem para nos impedir de filmar ou fotografar nos vagões”, reclama Genilson Filadelfia, 39.

A SuperVia informou que as estações estão sendo adaptadas para deficientes e que a responsabilidade das obras é do governo. A concessionária disse que as escadas rolantes estão paradas devido a atos de vandalismo, mas negocia o conserto. Afirma ainda que estuda melhorias na iluminação e instalação de banheiro móvel, mas não há prazo. Em 12 anos, a concessionária afirma ter investido mais de R$ 540 milhões em manutenção.

Vão entre composição e plataforma é risco

A falta de padronização nas composições gera risco para os usuários: enormes vãos se formam entre o trem e a plataforma. O problema já causou acidentes. O pedreiro Nelson Cunha, 45 anos, caiu em um desses ‘buracos’ na Estação São Cristóvão. “Fui entrar no trem por volta das 8h, horário de grande fluxo de chegada ao terminal. Quando tentava entrar na composição, acabei engolido por uma multidão que saía. Perdi os óculos e meu pé entrou no buraco. Por sorte, outros passageiros me ajudaram”, relatou. O mesmo problema motivou reclamações de usuários em outras estações, como a de Comendador Soares.

De acordo com a SuperVia, os terminais são muito antigos e foram projetados para dois tipos de trens: de carga e de circulação de passageiros. Por isso, ocorrem desníveis nas plataformas. Atualmente, 13 tipos diferentes de trens, com alturas e larguras diferentes, circulam nos quatro ramais do Rio. A expectativa é de que o problema seja corrigido conforme os novos trens padronizados sejam entregues. Alguns deles entrarão em circulação até o fim do ano.

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